sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Tânia


Caríssimos e Caríssimas

Lembram-se da Tânia? Aquela que limpou a casa do namorado e até o gato lhe levou?
Pois, ela não ficou contente com a história que contei. E eu, por ser Natal, resolvi dar-lhe voz....

Se quiser saber a história toda, carregue no link 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

D. Luisa (2 de 2)



E nesse instante preciso começou a revolta!

As forças de segurança ficaram sem saber o que fazer, pois não sabiam se mantinham a população em segurança por causa da condução da D. Luisa ou se mantinham a D. Luisa em segurança por causa da revolta da população.

O Chefe telefonou ao Comandante, que alarmado desencadeou uma cadeia de contactos que subiu até chegar ao Ministro. Que ligou ao Costa….

Mas estás a falar de que Geringonça, meu?”, gritou exasperado o PM. Sem saber o que fazer, ligou à Catarina, pois eram oito e meia da noite e o Jerónimo já estava a dormir.

Oi Catarina. Tudo bem? E o que é que pensas fazer com esta situação? Perguntou Costa, ao que respondeu Catarina “Não sei. Mas eu e a Marisa e já passamos por aí…”

Sem se aperceber de nada do que se estava a passar, a D. Luisa chegou pela enésima vez à sua praceta, e ao vê-la completamente vazia, exclamou, toda contente “Assim sim! Até que enfim que encontro um lugar de estacionamento de jeito!

E lá enfiou o focinho do pobre veículo em cima do passeio, imobilizando-o apenas a uns míseros centímetros de o fazer baldar ribanceira abaixo. Até o seu automóvel respirou de alívio.

Nesse preciso momento a Catarina e a Marisa chegam a casa do Costa a tempo de assistirem através da televisão à derradeira manobra automobilística da D. Luisa.

E após os três respiraram fundo em uníssono, começaram a falar de outras geringonças, pois erradamente julgaram que toda esta situação já tinha passado.

Tinham passado poucos minutos quando a Marisa, tendo ido buscar uma bebida mais forte, verifica na televisão que a situação no local tinha mudado drasticamente.

Ó pessoal venham aqui ver isto, depressa!
Realmente o que um heli de um canal de notícias mostrava era digno de se ver!

Os populares tinham começado a sua marcha, e estavam a ser barrados pelos Comandos, pelo Rui Reininho (com os GNR) e até pelos Escuteiros, que aproveitaram para vender mais uns calendários e porta-chaves.

Na troca de palavras, insultos e vapor que se seguiu, a frustração e a indignação da população subiu tanto de tom que começaram a lançar cocktais molotov sobre as forças de segurança.

Mas em vez de arremessarem garrafas a arder, atiravam copos vazios de shot, pois o álcool está caro e não é para desperdiçar! E depois de o beberem todo e porque já não tinham mais nada para atirar, foram-se todos embora em direção ao Bairro Alto..... 

Entretanto a D. Luisa, alheia a todo o caos envolvente, encontrava-se deliciada, rodeada de jornalistas, relatando a agradável sensação de ter encontrado um lugar nesta cidade ingrata que não respeita os automobilistas inexperientes.

Nesse preciso instante começaram a chegar políticos por todo o lado, cada um deles a prometer mais do que o outro, aproveitando o facto da D. Luisa estar naquele momento sob as luzes da ribalta.

Era um a prometer-lhe um passe social vitalício, outro um lugar de garagem, outro mais lugares de estacionamento....

Mas quem ganhou de caras foi o Costa que acabado de chegar, lhe prometeu logo disponibilizar um dos seus motoristas particulares (neste caso um todo bem apessoado, conforme reparou logo a D. Luisa) para seu uso exclusivo e permanente…..

E todos nós festejámos rijamente quando a proposta foi aceite. Parecia que tinhamos ganho outra vez o Campeonato da Europa!

Deste modo este grande imbróglio, que poderia ter resultado numa feroz guerra civil, foi finalmente resolvido, e a contento de todos.….

Desculpem, eu disse “acabou”? Não. Não tinha ainda acabado. Não com esta “bela” solução.

É que nesse preciso instante e por todo o país, inúmeras senhoras, devidamente habilitadas a conduzir, mas sem o fazerem há décadas, começaram a tirar das carteiras as suas cartas de condução…….

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

D. Luisa (1 de 2)


O pobre automóvel andava à volta do bairro há bastante tempo, bufando, sem se decidir por um dos inúmeros lugares de estacionamento disponíveis.

Para a D. Luisa todos os lugares eram “demasiado estreitos”. Ou então “estacionar do lado esquerdo nem pensar”. Bem, se fosse do lado direito era igual.

É que a D. Luisa procurava o que chamamos de "um lugarão". Vocês sabem, daqueles que se estacionam de frente e com uns bons cinco metros entre o seu automóvel e os outros.

E, claro, mesmo dentro da sua praceta. E de preferência, junto à porta do prédio, para não ter de andar muito.

Como habitualmente nestas ocasiões a Proteção Civil, o INEM e a PSP estavam de prevenção, tendo já sido emitidos os alertas da praxe à população e as barreiras já estavam colocadas, estando os maqueiros dos Bombeiros nas suas posições habituais.

As saídas de automóvel da D. Luisa careciam de tantas prevenções e cuidados como as largadas de touros em Vila Franca de Xira. Aliás, eram consideradas bem mais perigosas.

E até tem sentido. É que nas largadas os habitantes dessas localidades já estavam prevenidos.

O pobre do automóvel continuava a dar voltas sobre voltas, e as ruas do bairro iam ficando cada vez mais vazias de transeuntes, acumulando-se no Centro Comercial ou fechando-se em casa, com tudo corrido.

Nem sempre foi assim naquele pacato bairro. A D. Luisa desde sempre teve licença para conduzir, mas felizmente para todos, teve sempre um receio quase patológico de conduzir.

É que tenho de olhar para tanta coisa que não consigo”. Dizia. E os seus vizinhos sorriam de evidente felicidade. Agora já não o fazem.

Realmente assim era. Conduzir um automóvel requeria colocar as mudanças, olhar para o espelho retrovisor do lado do condutor, do lado do pendura e do habitáculo, saber quando era necessário colocar o pisca da esquerda e o da direita, o limpa pára-brisas e as suas múltiplas velocidades, estar atenta aos outros automóveis, aos erráticos transeuntes, aos semáforos, aos sinais verticais, às passadeiras…...

Num frio mas soalheiro dia a notícia alastrou-se mais rápido que o vírus da gripe numa sala de espera de um Centro de Saúde!

É que alguém tinha visto a D. Luisa sentada no lugar do condutor de um automóvel novo, branco leite! E ainda por cima sem o marido ao lado.

Foi um escândalo. Todos comentavam “Já viram isto?”, “Eu com esta idade já não posso anda a fugir daquela mulher” , “Com o andarilho não consigo correr nas passadeiras!” ou ainda “Vou-me mudar. Não quero correr riscos”.

Assistiu-se então naquele bairro às cinco fases habituais de uma muito má notícia:

A negação Não, a D. Luisa jamais iria conduzir num automóvel

A raiva Eu mato-a. Eu desfaço aquela gaja!

A negociação D. Luisa, mas afinal o que quer para que não conduza?

A depressão Eu jamais irei sair de casa novamente!

A aceitação Foi o destino. Não posso fazer nada em relação a isso….

Andava tudo incendiado para aqueles lados. É que para cúmulo o automóvel que a D. Luisa tinha adquirido não era dos chamados “Papa Reformas”, que com o seu motorzito, que caso choquem com algum incauto transeunte não matam mas desmoralizam.

Não, a D. Luisa tinha investido num 1200cc, por isso, perigosíssimo. Nas mãos dela, claro.

Cientes de que aquela zona se tinha tornado mais perigosa que Alepo, as companhias de seguros tinham feito disparar os prémios dos seguros de acidentes pessoais de todos os moradores da zona, para consternação de todos.

Instantaneamente os preços das casas entraram em profunda baixa, as lojas começaram a fechar e toda a economia da zona entrou em profunda depressão.

Foi o transbordar do copo!


(continua)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Red Vader



As Andorinhas partiram há muito e a sua ausência anuncia mais uma vez a aproximação do Natal. E com ele renasce das suas próprias cinzas o Movimento Abolicionista do Natal e Passagem do Ano, o MANEPA!

MANEPIANOS, o Inimigo Natalício está por todo o lado e cada vez mais forte. Nós somos poucos mas determinados e estamos preparados para tudo. E as nossas bazucas estão carregadas e prontas a usar.

É que o Velho de Vermelho está quase a sair da sua toca, acompanhado pelos seus chifrudos!

Assim, temos mais uma soberana ocasião para o fazer cair de vez, antes que encha o Mundo com os seus “ho-ho-ho”, que tanto causam calafrios, arrepios na espinha e insónias.

Pensando bem, não são “ho-ho-ho” que me causam isso tudo. É mais ver o extracto bancário posterior à sua passagem….

Mas não interessa! Aquele vil merece ser extinto pelos transtornos que causa, por exemplo, às pobres criancinhas.

Nesta época do ano são elas que, na realidade, mais sofrem, e ainda por cima querem que se pense exactamente o contrário!

É que as criancinhas são arrastadas para as lojas, apenas para verem os seus pais a fazerem compras para todos, menos para elas! E depois admiram-se das birras!

E é bom nem falar das cartas que as pobres inocentes enviam para o Velho de Vermelho para serem ignoradas. Conseguem imaginar as suas frustrações? Resultam em tantos traumas que nem com uma eternidade de Terapias se conseguiria remediar a situação!

Caríssimas e Caríssimos Membros da MANEPA. Estimadas e Estimados Acompanhantes deste Blogue em geral, eu tenho uma revelação muito importante a fazer-vos!

Andei tantos anos neste mundo e não consegui ver o óbvio. E era tão simples. Bastava seguir as pistas…

Vocês nunca estranharam que ninguém saiba do Velho de Vermelho durante quase todo o ano? Que não seja fotografado nos resorts das Caraíbas? Que não frequente festas em Ibiza? Que não assista ao vivo à Final da Liga dos Campeões?

Não gostariam de saber onde está o Velho de Vermelho durante onze meses do ano? Decerto que sim. Mas ninguém sabia. Até agora.

É que eu descobri. Descobri que o Velho de Vermelho passa esse tempo todo num Universo muito, mas mesmo muito longe…..

o Velho de Vermelho é um dos personagens principais na saga Guerra das Estrelas! E, claro está, do LADO NEGRO.

Ele é RED VADER, o Vilão do Natal!

E irmão mais novo do Darth Vader e primo do Imperador, essa Corja de Malandros da pior espécie.

MANEPA para Sempre. A vitória será nossa! A Força está do nosso lado.

Nota: Para vosso maior enquadramento sobre esta guerra milenar e o nosso Movimento, recomendo a leitura ao texto MANEPA neste Blogue XABI VERDE!

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O Amor já moveu Montanhas


Numa cerimónia a que assisti há pouco tempo ouvi a Conservadora dizer aos nubentes que o casamento era um contrato especial, porque envolvia um sentimento: o Amor!

E de todos os sentimentos, o Amor é mesmo (muito) especial. Certo. Concordo. Mas ando desconfiado que este já não é o que era.

Casamos e estamos juntos por Amor. Impensável outra forma. Mas no entanto casamos (de papel assinado) cada vez menos.

Será por não confiarmos uns nos outros o suficiente? Ou será por ser mais fácil e rápido cada um ir para o seu lado, caso o Amor acabe?

As estatísticas dizem que mesmo entre os que tiveram a certeza de o casamento era o caminho, a taxa de divórcio é crescente.

Mas nas relações maritais a taxa de separação deve ser maior que nos casamentos. E é notório que o tempo médio de um casal é cada vez menor.

Por vezes renasce a esperança pois (julgamos) encontrar a outra metade da laranja....mas a laranjada azeda muito rápido. E nem adianta deitar açúcar, pois amarga ainda mais!

Gostamos e desgostamos muito rapidamente. E estamos a acelerar. Ao mínimo sinal de discórdia "deixamos de amar". E o “não deu” é sempre a resposta.

À mínima vibração negativa deixamos de acreditar no futuro a dois. Estamos agora a sentir ao momento. O sim ou o não. O clique.

As decisões sentimentais são tomadas no momento, sem pararmos para pensar, para reflectir. E não admitem retorno. Resta seguir em frente, para outra.

E muitas vezes acontece sem diálogo. Decidido por um, separam-se os dois. E tudo acaba.

Assim não vale a pena investir no Amor e nas relações, pois tudo pode acabar num minuto. Num nada e por nada.

Vejo agora que o Amor e as relações são como as pastilhas elásticas. Deitam-se logo fora quando começam a perder o sabor original.

E tudo isto é dito e feito em nome do coração, da emoção, da sensação imediata.

Tudo em nome do Amor....
... por nós mesmos....

Que saudade dos tempos em que o Amor movia Montanhas… 
…pois agora este desaparece quando surge uma qualquer pedrita no caminho…

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Zombies Urbanos


Estou na plataforma do metro e levanto a cabeça, calibrando os meus ouvidos.

Os únicos sons que consigo distinguir são os que se escapam de alguns headphones mais ou menos próximos.

Chega a composição e observo as pessoas, perfeitamente ritmadas nos seus movimentos, a adentrá-la.

Meneio a cabeça a pensar: Zombies não se imitariam melhor.

Entro na carruagem e não tiro do bolso o meu smartphone. Mas reparo que sou o único a não fazer esse movimento.

Olho à volta e reparo que a curvatura do pescoço é exactamente igual em todas as pessoas que vejo, como se estivessem a cumprir uma penitência em conjunto.

Tento fixar-lhes os olhos e o único brilho que vejo é o do reflexo do ecrã. Nada mais. Triste.

Sinto-me só rodeado de gente, que não me vê, não me ouve, não me sente. Sou apenas mais um.

Que desperdício de tempo que podia ser de emoções, de conversas, de olhares.

Tantos corpos emersos não nos seus próprios pensamentos mas nos dados móveis recebidos.

Decerto que nunca ninguém imaginou que pudesse haver tanta alienação global, tanto desligamento da realidade.

Nem me parecem fascinados pelo que vêm. Mais parecem hipnotizados. Apenas olham, sem emoção alguma…

Estaremos a ficar cada vez mais apáticos?

Apenas alguns desportos parecem ter ficado imunes a esta falta de emoção.

Pensem por exemplo na comoção em tempos idos na política nacional, especialmente em períodos eleitorais.

Agora a adesão é “tão grande” que mesmo os maiores partidos deixaram de realizar comícios.

Mas afinal o que comove as pessoas? O que as faz correr?

Não sei. Muito pouco. Ou talvez nada. 

Ao virtualizarmos as nossas emoções, certamente apenas restará a apatia.

Vou continuar a levantar a cabeça na esperança de encontrar alguém que como eu, não esteja a olhar para o ecrã do seu smartphone…


… nem que seja por ter ficado sem bateria J

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Mas afinal o que raio é que as Mulheres querem dos Homens?



Caros companheiros do género masculino, peço desde já a vossa maior atenção!

Tal como todos, tenho vivido desde sempre sob um pesadíssimo fardo, que é o de tentar descobrir o maior segredo de todos.

Vejo pelas vossas caras que já sabem a que me refiro. É evidente que estou a falar da resposta à nossa derradeira questão!

Mas afinal o que raio é que as mulheres querem de nós, pobres desgraçados do género masculino?

Mas não julguem nem por um momento que foi fácil obter esta resposta!

Não julguem que não foi resultado de muita introspecção, investigação, pesquisa, questionários e de interrogatórios.
Mas finalmente vi a luz!

Caiu um raio perto de mim que por pouco não me chinava, mas resultou no desvendar deste mistério.

Mas consegui finalmente. Por isso preparem-se para a revelação.

Estou trémulo com a emoção, e mesmo temendo pela minha integridade física, psicológica e principalmente auditiva, vou revelar, em primeira mão, o que afinal as mulheres querem de nós!

Antes de transmitir o que fiquei a saber, declaro ter a noção que a partir de agora, o convívio entre homens e mulheres conhecerá um período de ouro, cheio de compreensão. É que deixarão de haver razões para que não aconteça.

Os homens sempre julgaram que as mulheres eram extremamente exigentes para com os representantes do género masculino, mas descobri que essa ideia é manifestamente um mito urbano, sem qualquer fundamento!

Constatei que as mulheres afinal apenas querem dos homens é.... muitas coisas ao mesmo tempo, no timing exacto e perfeitas em todos os aspectos.

Portanto, tudo coisas simples e acessíveis! LOLOLOL,

As Mulheres SIMPLESMENTE querem…
Que as elogiemos
Que as beijemos com sinceridade
Que nos cuidemos
Que sejamos sinceros
Que sejamos homenzinhos
Que sejamos compreensivos
Que sejamos empáticos
Que nos preocupemos com as suas vidas
Que sejamos atenciosos
Que sejamos reconhecidos
Que conheçamos os seus caprichos
Que sejamos cavalheiros
Que nos autovalorizemos
Que tenhamos confiança em nós mesmos
Que tenhamos vontade de crescer
Que cultivemos o companheirismo
Que tenhamos personalidade
Que as façamos rir
Que cultivemos um lado sensível
Que sejamos inteligentes (ou pelo menos pareçamos)
Que cultivemos o corpo (para este ficar atlético)
Que sejamos confiáveis
Que prestemos muita atenção nelas
Que conversemos com elas
Que sejamos afectuosos
Que sejamos românticos
Que cultivemos a partilha
Que as valorizemos
Que sejamos positivos
Que sejamos os seus melhores amigos
Que sejamos altruístas
Que consigamos exprimir as nossas emoções e sentimentos
(…)

Como é fácil de constatar, nesta súmula de lista (que podem completar), a verdade sempre esteve ao nosso alcance.

Basta seguirmos estes itens (e outros que entretanto poderão ser acrescidos) e teremos a garantia absoluta que as mulheres estarão sempre, no mínimo, felizes connosco.

Resultados garantidos cientificamente!

Agora resta saber se alguma vez nós, pobres homens imperfeitos, nos conseguiremos comportar desta forma tão exemplar....

É que me está a parecer que isto é não é uma lista para homens, mas para verdadeiros ANJOS!

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Lema de Vida


Desde criança me vi como um puto desconfiado, desconfiado que o mundo estava unido para me tramar, e mais valia estar atento que ser apanhado com os calções na mão.

Mais tarde comecei a desconfiar que o mundo tinha coisas mais importantes para fazer, e eu próprio comecei a dedicar-me a outras coisas, já sem olhar para debaixo da cama, onde se escondiam os monstros malvados de outrora.

Agora sei que o mundo está muito entretido noutras coisas, não necessariamente naquilo que deveria, mas enfim, não posso querer tudo, pelo menos por agora.

Mas como quem nasce torto tarde ou nunca se endireita, continuo por vezes a desconfiar que continuo o mesmo puto desconfiado, pelo menos até conhecer bem o chão que piso.

Neste período da minha vida em que tudo parece correr “benzito”, vejo-me por vezes a olhar para trás e a recusar baixar a guarda.

Será que serei sempre o mesmo puto desconfiado que quando a esmola é muita o pobre desconfia? Parece que sim.

Não sou de ficar à espera que o universo ou um qualquer mecenas me resolva os problemas, como uma qualquer cigarra. Vejo-me sempre mais como uma formiguita.

No fundo sempre desconfiei da calmaria, pois a esta sucederá inevitavelmente a tempestade. E quanto mais prolongada for a paz, mais feroz será a guerra!

Não é por não me achar merecedor de períodos de tranquilidade, mas sim pelo simples facto de respeitar o dito popular Não há mal que sempre dure, nem bem que se não acabe.


É que quando muita coisa na minha vida estava efectivamente mal, tinha esse dito gravado na minha memória, e agora, mais que nunca, quero-o junto a mim, como lema de vida.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Fernanda (2 de 2)



Fernanda foi viver sozinha na casa que era da sua avó, quando esta foi acolhida num lar.

Amarelinho surgiu pouco tempo depois, pois é sabido que mulher que está só tem de ter um gato!

Magro e infeliz no início, depressa se tornou o inverso, para gaudio da sua dona.

Quando encontrou o seu “outro gato” esse também estava magro e infeliz.

Mas para felicidade da “sua dona” permaneceu esbelto.

Demorou tempo até esse novo “gato” esquecer os seus males de amor.

Ele demorou mais algum tempo até saber bem o que queria….. pelo menos dela…

O aspecto de Ricardo era, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição.

Bênção para Ricardo, maldição para Nandinha.

É que se a beleza fosse pecado, ele iria para o Inferno!

E como ela estava ciente do perigo de o perder para as oferecidas…

Por vezes os seus gatos desapareciam.

Um desaparecia pela janela, quando esta ficava aberta, em dias de maior calor.

Era visto nos telhados …. a ver as vistas. E a ver as gatas.

O outro gato desaparecia pela porta, e não era preciso deixarem-na aberta.

Era visto na rua …. a limpar as vistas. E a ver as gatas.

E como a Nandinha sofria com os desaforos de ambos os seus gatos.

Não sei quantas vezes chorou…. mas foram mais do que ela merecia.

Tempos passaram. E alguma água correu sob as pontes….

Ela perdeu-o. Foi-se. Deixou de o ter.

É verdade. Todos o sabiam.

Nandinha perdeu finalmente o medo … que tinha de perder Ricardo!

O Amarelinho foi-se enroscar nas suas pernas. Ronronando, exigia festas, sendo o seu desejo prontamente satisfeito.

De repente a porta abriu-se, despertando-a dos seus pensamentos. Era o seu Ricardo….

Olá Amor, fui-te comprar as bolachinhas que tanto querias ontem e já não tínhamos….

E o rosto dela iluminou-se como uma Árvore de Natal….

….como só as grávidas felizes conseguem fazer!

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Fernanda (1 de 2)


Fernanda caminhava apressada rua abaixo, pisando ao de leve o quente alcatrão.

Ao chegar à porta do prédio a ansiedade fez com as chaves saltassem da sua mão, mas apanhou-as ainda no ar.

Ela ligou-lhe ainda antes de fazer rodar a chave da porta de entrada, com o telemóvel firmemente prensado entre o ombro e a orelha.

Adentrou a porta do prédio e zarpou escada acima, nem reparando que o elevador estava estacionado no rés-do-chão.

Abriu a porta de casa e deparou com o seu fiel gato a fazer de cão, à sua espera na entrada.

Mas onde estaria o outro gato, o “seu outro gato”, também ele de olhos verdes? Estranhou.

Ligou-lhe de novo. Mais uma vez foi para a caixa de mensagens. Estranhou. Sentou-se no sofá e abanou-se. Realmente estava muito calor.

Descalçou-se e com visível satisfação e aninhou-se no sofá, ao mesmo tempo que o ronronadeiro passou à sua frente.

Pensou nos gatos da sua vida. Realmente tinham os dois muito em comum.

Amarelinho foi o seu primeiro gato. E com pêlo por todo o lado.

Ricardo foi o seu segundo gato. Mas com muito menos pêlo.

Amarelinho era um gato comum europeu. Popularmente chamado de gato sem raça.

Ricardo era do tipo comum europeu. E muito popular junto de determinado público.

E a Fernanda encontrou-os a ambos na rua, em períodos diferentes.

Amarelinho foi encontrado debaixo de um automóvel, faminto e sujo, e num ápice encontrou em Fernanda um lar.

Ricardo foi encontrado junto ao Minimercado, e também num ápice foi para o lar de Fernanda.

Lembrava-se por vezes da sua pacata vida, antes de arranjar os seus gatos. Tão pacata que nem social chegava a ser.

Trabalhou desde sempre no Minimercado da vila, e sentia-se feliz.

E sentia-se feliz simplesmente por poder contactar pessoas. Adorada pelos velhinhos e invejada pelas suas esposas. Mas sem rancor….


Era a Nandinha. Fernanda só passou a ser tempos depois, e apenas para uma certa e muito especial pessoa….

(continua....)

sábado, 8 de outubro de 2016

O Zé do Tuk-Tuk (3 de 3)



Ao cair para trás, Zé quase derruba uma senhora, e estando já os ânimos exaltados, começou logo aí uma confusão do "empurra empurra" e "olha que te vou ao focinho", altercação essa muito bem aproveitada pelo nosso perninhas de alicate para ficar fora da vista da sua "nemesis" escandinava!

Assim o Zé esgueira-se Rua Augusta abaixo até ao acesso do Arco, e nem se atreveu a olhar para trás, pois sentia a Karen a morder-lhe os calcanhares. Ele só pensava que o mundo inteiro se tinha juntado para o tramar, e não estava longe da verdade. Efectivamente, até a polícia já estava no encalço dos dois....



No acesso ao topo do Arco da Rua Augusta, Zé passou rapidamente por baixo dos torniquetes, apanhando à justa o elevador de acesso ao patamar intermédio, e ao virar-se vê Karen a chegar, esbaforida e cada vez mais irritada.


Chegado ao patamar, Zé subiu a muito custo as estreitas escadas do acesso ao topo do Arco da Rua Augusta, sem imaginar que ia para um beco sem saída. Ele nunca tinha estado lá em cima, e devia achar que havia um escorrega gigante para o levar outra vez à rua.

Alcançado o cimo, Zé ficou de boca aberta com a vista esplendorosa que tinha da cidade de Lisboa, com a Praça do Comércio e o Tejo aos seus pés.... Idílico, até levar uma murraça no cachaço que foi logo ao chão! Estranhamente, nesse momento, ele sentiu-se na pele de um herói prestes a morrer pela pátria. Deviam ser efeitos do álcool e da pancada....


A dinamarquesa agarrou o Zé em peso e subindo o parapeito, pendurou-o de cabeça para baixo! Ele chorava e berrava como um bezerro desmamado, Karen gritava palavrões e os turistas, alvoroçados por tanta agitação, filmavam e tiravam selfies, e aquela cena toda tornou-se instantaneamente viral no Facebook, Instagram e Youtube!

Ao ver a dinamarquesa em pé no parapeito, mas sem imaginar que estivesse a segurar as pernas do Zé, os polícias começaram a gritar para que ela levantasse os braços e descesse. Nós sabemos que os nórdicos normalmente são pessoas que respeitam as autoridades, e Karen não era excepção. Ordem dada, ordem cumprida, e com um sorriso fino de ironia tipo “vocês é que mandam”ela levantou ou braços….

E Zé cai de cabeça do Arco da Rua Augusta abaixo!

Todos conhecemos o velho ditado “ao menino e ao borracho põe-lhe Deus a mão por baixo?” E foi mais uma vez isso que aconteceu. Deus meteu um toldo de Tuk-Tuk por baixo do Zé. Caiu de fuças e partiu-se todo, mas incrivelmente sobreviveu!



Bem, e o que aconteceu a seguir?

Pelo que ouvi dizer, a segurança Carlinha está agora dedicada a tempo inteiro à apanha dos Pokemons, tendo como companhia inseparável a Inger....

, tendo visto muito próximo o final da sua vida, achou que tinha recebido uma dádiva divina e que era altura de se regenerar e de se purificar. E tornou-se um monge tibetano e foi viver incógnito para as Ilhas Canárias. Os seus pais só desejam que ele fique por lá por longo e bom tempo e que não os chateie!

Karen tornou-se uma estrela em Copenhaga, após ter publicado o seu livro "Pendurei-te pelos pés!" em que narrava todos os episódios das suas férias em Lisboa, culminando, claro está, com a captura do agora famoso perninhas de alicate.

E esta semana Karen anunciou que está a preparar um novo livro, que contará as suas aventuras das próximas férias, a terem lugar numas certas ilhas espanholas.....


(Fim)

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O Zé do Tuk-Tuk (2 de 3)




Apesar de estar muito taralhoco do vinho e do violento choque, e sei lá mais do quê, Zé levantou a cabeça e viu a Karen (a tal que lhe estava a arrancar cabelos) a fitá-lo, e reparando nos olhos cheios de ódio e de vingança da mulher, ele acagaçou-se de medo de tal maneira que se pôs em fuga, mas devagarinho, pois uma das suas pernitas de alicate estava num estado bastante lastimoso.

Inger (a outra dinamarquesa) ainda estava caída em cima da Carlinha segurança, que chorava não de dores, mas por ver que se tinha esbardalhado o telemóvel e do Pokemon Dewgong ter fugido de susto, com toda aquela situação.

Entretanto o Zé tinha-se arrastado até à Rua da Prata, onde se encontrava um ajuntamento de pessoas que aguardavam pacientemente a sua vez para visitarem as Galerias Romanas de Lisboa. Dizendo “mano, dá aí uma folguinha” esgueirou-se para dentro do buraco, situado entre os carris da linha do eléctrico, sob os protestos dos que aguardavam na fila. Debalde, Zé já lá estava dentro.

No meio do seu torpor alcoólico, o Zé pensou que aquilo era uma “entrada muito esquisita do metro” e pensou ir até à casa da prima que vive na Reboleira, escapulindo-se de vez daquela gaja irritante.

Karen utilizou o mesmo método do Zé para passar à frente das pessoas, com uns brutos “escuse me, escuse me”. Mas para seu azar o buraco de entrada era estreito demais para ela. Era como tentar meter o Rossio na Rua da Betesga. Furiosa, ainda colocou a sua cabeçorra no buraco ainda a tempo de ver os pezinhos do trengo a esgueirar-se, lá ao fundo.

Zé sentou-se um pouco e pensou “mas onde é que conheci estas gajas?’”. Ora, ele conheceu-as onde gosta de as conhecer, num qualquer restaurante do Bairro Alto. E depois foi o normal “I take the picture”, “smile, smile” e “andem cá provar esta bela pomada” e foi num ápice que beberam umas cinco garrafas de tinto Quinta da Bacalhoa num Wine Bar do Castelo. E depois? "Bora lá conhecer Lisboa, girls!"

Pararam religiosamente em todos os pontos de interesse… do bota abaixo, claro, que as vistas da cidade ficam muito mais desanuviadas com vapores do álcool, e se o Zé gostava muito, elas ainda mais! E lá prosseguiram colina abaixo até dar a filoxera ao perninhas de alicate, lá pelas ruas de Alfama, e tudo se descontrolar.

Ao verem o que estava a acontecer, os guardas das Galerias Romanas pegaram no Zé pelos colarinho e arrastaram-no cá para fora, para contentamento principalmente da Karen, que ficou a esfregar as mãos de contente, antecipando a "trepa" que ia dar no coiro daquele desgraçado!

Zé, que entretanto tinha adormecido nas Galerias Romanas, só se apercebeu que estava “cá fora” ao sentir uma brisa na cara, e ao abrir lentamente a pestana deu de caras com os olhos tresloucados da dinamarquesa, e dando um gritinho um tanto ou quanto suspeito, caiu para trás...

(continua)