Estou na plataforma do metro e levanto a cabeça, calibrando os meus ouvidos.
Os únicos sons que consigo distinguir são os
que se escapam de alguns headphones mais ou menos próximos.
Chega a composição e observo as pessoas,
perfeitamente ritmadas nos seus movimentos, a adentrá-la.
Meneio a cabeça a pensar: Zombies não se
imitariam melhor.
Entro
na carruagem e não tiro do bolso o meu smartphone. Mas reparo que sou o único
a não fazer esse movimento.
Olho à volta e reparo que a curvatura do
pescoço é exactamente igual em todas as pessoas que vejo, como se estivessem a
cumprir uma penitência em conjunto.
Tento fixar-lhes os olhos e o único brilho
que vejo é o do reflexo do ecrã. Nada mais. Triste.
Sinto-me só rodeado de gente, que não me vê,
não me ouve, não me sente. Sou apenas mais um.
Que desperdício de tempo que podia ser de
emoções, de conversas, de olhares.
Tantos corpos emersos não nos seus próprios
pensamentos mas nos dados móveis recebidos.
Decerto que nunca ninguém imaginou que
pudesse haver tanta alienação global, tanto desligamento da realidade.
Nem me parecem fascinados pelo que vêm. Mais
parecem hipnotizados. Apenas olham, sem emoção alguma…
Estaremos a ficar cada vez mais apáticos?
Apenas alguns desportos parecem ter ficado
imunes a esta falta de emoção.
Pensem por exemplo na comoção em tempos idos na política nacional, especialmente em períodos eleitorais.
Agora a adesão é “tão grande” que mesmo os maiores partidos deixaram de realizar comícios.
Mas afinal o que comove as pessoas? O que
as faz correr?
Não sei. Muito pouco. Ou talvez nada.
Ao virtualizarmos as nossas emoções, certamente apenas restará a apatia.
Vou continuar a levantar a cabeça na esperança
de encontrar alguém que como eu, não esteja a olhar para o ecrã do seu
smartphone…
…
nem que seja por ter ficado sem bateria J
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