segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Inverno da minha Vida


Ao ler este título decerto pensará que me estou a referir ao inverno da vida, que corresponde ao envelhecer. Hoje, pelo menos, não é esse o tema.

Abateu-se sobre mim um inverno na minha vida. Cinzento, chuvoso e frio. Gélido mesmo.

Este inverno surgiu sem eu me aperceber dele. Sem ter avistado as nuvens negras a juntarem-se. Sem sentir o vento frio na cara. Sem aviso de espécie alguma.

Mas ele dirigiu-se para mim, e com forças que só o inverno pode criar.

Quando as primeiras bátegas de chuva gelada se abateram sobre mim julguei que fossem uns meros aguaceiros, e que depressa regressaria o sol. Puro engano.

Quanta ingenuidade tinha no meu ser. Julgaria eu que os ventos gelados eram apenas dirigidos aos outros? Pensaria eu que escaparia nos intervalos da chuva? Que na minha vida não existiria inverno?

Quando me apercebi que afinal estava no meio da maior borrasca da minha vida, abri os olhos ao céu e vi que o sol tinha desaparecido e que por cima de mim só estavam nuvens, que se juntavam negras e ameaçadoras.

De súbito compreendi que o inverno da minha vida tinha finalmente chegado. E que não me adiantava nada maldizer o clima, a vida ou os outros.

O inverno tinha chegado porque eu o tinha convocado. Nada mais simples do que isso. E era plenamente merecido!

Eu tentei resistir-lhe o melhor que pude e sabia. Por vezes neguei-o e reneguei-o, mas isso só o fez prolongar por mais tempo e com maior intensidade. É que o inverno não gosta de ser ignorado.

Quando assumi que estava a passar pelo inverno da minha vida aprendi muito. A respeitá-lo, a compreendê-lo, a lidar com ele, a resguardar-me e a proteger-me.

E especialmente a não desesperar. E cresci....

Felizmente tive ao meu lado algumas pessoas que me acompanharam nesta provação. A elas dirijo o meu mais profundo agradecimento, pois incondicionalmente deram-me calor quando eu gelava e luz quando não a tinha.

Infelizmente não pude contar com outras pessoas, mas acho que o inverno das suas vidas também lhes estava a bater à porta.

Sabia que este estado invernal não iria durar para sempre, e essa ideia sempre me animou, especialmente nos piores momentos.

Quando escrevo estas palavras sentidas julgo que o pior já passou. Dizem que após a tempestade vem a bonança e parece que não se enganam.

Olho para o horizonte e vejo lá ao longe raios de sol a trespassarem as nuvens. A chuva que caía incessante passou a aguaceiros ligeiros. E a temperatura está a ficar amena.

Sinto que o verão da minha vida está de novo a regressar…. E estou muito grato por isso.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Zé Bolas

 
Estando eu a ver na televisão uma reportagem sobre turismo em Portugal quando ouço um casal inglês a referir-se a um tal de “Gozé Balls”. “A quem eles se estão a referir?”. Coloco o termo no Google Tradutor e sai (claro), uma porcaria. Refino e consigo algo – Zé Bolas. Ui, o que é isto?

Até ver aquela reportagem televisiva nunca me teria passado pela cabeça reparar no Zé Bolas. Afinal ele não é como o Mongas Submisso….

É que no fundo ele não é uma espécie diferente da nossa. Nem outra raça. Ele não segue outros credos nem outros costumes. Se repararmos bem, ele não se mistura com os outros para passar despercebido. Aliás, bem pelo contrário.

Ok. Chega. Afinal, quem é o Zé Bolas? Segundo o livro “Histórias da História de Portugal”, este surgiu espontaneamente no nosso país e alegremente espalhou-se pelos quatro cantos do mundo, nos barcos nos Descobrimentos e na Diáspora posterior.

Mas não sejamos xenófobos. Não podemos considerar que é um produto genuinamente nacional. Ele é universal. Possui primos e primas por todo o lado e para isso basta vermos programas comoJersey Shore ou qualquer uma das suas imitações baratas.

O camaleão adapta a cor da sua pele à do meio ambiente, adaptando-se assim a todos os contextos. Já o Zé Bolas também se adapta a todos os contextos, mas recusa-se a ser camaleónico. Assim, se ele está num grupo em que cada um tem vestido uma peça de roupa de cor verde, ele veste-se todo de verde florescente!

Em resumo, o Zé Bolas quer ser como os outros, mas mais qualquer coisa…. Ele não é nem quer ser confundido com o Pop Chunga. Não, ele é outra coisa diferente….

Ele é aquele que quer tanto ser hot, estar na moda, se destacar no seu grupo que se torna diferente sim, mas por parecer já estranho!

Se é hot ter tatuagens, então bora lá encher-me tanto de tatoos que pareço um mapa.

Se está na moda ter as calças de cintura baixa, bora lá mostrar o fundilho das cuecas, e para quase nem conseguir andar.

Se o que está a dar é beber para caramba, então bora lá andar sempre com o fígado a desfazer-se como se não houvesse amanhã.

Se é cool ter pouco conteúdo na cabeça, bora lá não ter mesmo nada na tola, tornando-me assim um fortíssimo candidato a entrar num qualquer reality show da TVI.

No fundo, é apenas um tipo que se quer destacar dos outros pelo seu aspecto ou pelo (muito pouco) conteúdo dentro da sua cabecinha. E é feliz assim…

É na sua transmutação permanente que reside a sua força e a sua imortalidade. Viva o “nosso”Zé Bolas. Que viva para sempre! De preferência com um belo shot de vodka na mão…

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Alma



 
Vejo que a minha alma arde sem chama e sem razão. E ao meu espírito continua a não chegar motivo para este recrudescimento ….

Não tirem daqui conclusões precipitadas. A minha alma não arde por estar no inferno. Apenas mantêm-se acesa por dentro, impaciente, e reparo, cada vez com mais força.

 Reconheço que a alma humana é coisa complexa e difícil de analisar e compreender. Todos o sabemos. O que custa mesmo é determinar a sua inteira complexidade.

 Se bem que contêm lados obscuros, tem no entanto facetas encantadoras, criativas e bondosas. É humana. E é o que nos torna a todos nós humanos.

 À parte dela somos simples pedaços de carbono, como o resto do Universo do qual viemos e para onde iremos.

 Não nos dispersemos. A razão da minha alma arder sem chama e sem razão permanece.

 Recordo bem quando ardia em grandes labaredas, mas por contingências da vida, a chama desaparece quando se apaga algo igualmente importante.

 No entanto a minha alma continuou a arder. E agora com mais força. Mas sem chama.

 Acredito e com todas as minhas forças que a minha alma espera apenas uma razão forte, já escrita nas estrelas mas oculta para mim. Ainda.
 
Agora? Resta-me apenas antecipar a intensidade das suas chamas e o seu rubor. E a felicidade e a tranquilidade que tal me irá proporcionar ….

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Dragão Adormecido


Subo uma colina para poder apreciar o espectáculo do pôr-do-sol a mergulhar no oceano, deixando um rasto de obscuridade crescente. Imagino os nossos antepassados com medo que o Sol engolido pelas trevas, não voltasse a aparecer.
Actualmente consideramos completamente disparatado esse temor ancestral. Afinal, tornámo-nos todos muito sapientes e racionais….
Mas o que observo é que continuamos a ter comportamentos semelhantes aos nossos antepassados em termos de Medo do Desconhecido. Só mudou mesmo o que continuamos a desconhecer.
Carregamos ainda o receio que aconteça algo de menos bom e que a nossa vida não volte a ser a mesma. E tememos muito mais pelos nossos do que por nós próprios, sendo esse sentimento intrínseco à nossa natureza humana.
Os nossos maiores medos escondem-se nas profundezas do coração. Quanto maior for o temor mais profundo se encontra, e menos referido é. Vulgarmente não falamos ou pensamos nele para “não o chamar”, como se tratasse de um dragão adormecido que acordasse se ouvisse o seu nome.
Se bem se lembram, na saga “Harry Potter”, os personagens referiam-se ao Lord Voldemort como “aquele cujo nome não deve ser pronunciado”, e mesmo assim em surdina. E nós procedemos assim relativamente aos nossos maiores medos.
Afinal não devemos ser tão racionais como julgamos e queremos. Sempre são milhares de anos de património genético, cultural e principalmente supersticioso acumulado em cada um de nós, e que não podemos ignorar. E nem devemos, mesmo que na realidade nem saibamos porquê.
É que a racionalidade tem o limite que cada um de nós quer e bem entende. E desta forma sempre iremos temer o desconhecido e o imprevisível, seja ele qual for.
Afinal de contas, o que não queremos é que o nosso dragão adormecido acorde.…. e termino agora porque nem quero falar mais deste assunto….

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Conhecer Mundo

O Mundo anda por estes dias muito pequenino. Obtemos informação instantânea e pelos mais diversos meios sobre todos os eventos relevantes que estejam a acontecer em qualquer ponto do Globo.

Actualmente podemos “ver” as todas as obras expostas nos mais afamados museus do Mundo, acedendo aos respectivos sítios informáticos. Através do Google Earth podemos “percorrer”a maioria das ruas do Planeta quase como se lá estivéssemos. Melhor, sem os incómodos inerentes à deslocação.

 
Com todas estas funcionalidades à nossa disposição podemos até pensar que não precisamos de sair de casa para conhecer o Mundo. Puro engano. Cada vez mais pessoas ao redor do Planeta viajam, planeiam ou sonham com isso. E para cada vez mais longe.
Mas o que leva milhões de pessoas a quererem deslocar-se para outra região ou país, por motivos turísticos, especialmente quando podemos “conhecer tudo” digitalmente?

Simplesmente porque pretendem “Conhecer Mundo”. E fazem muito bem, na minha humilde opinião!

O meu conceito de conhecer mundo não é o de ir a Badajoz comprar caramelos. Isso é pura e simplesmente deslocar-nos de um sítio para o outro sem ficarmos a conhecer nada de novo.

Conhecer Mundo é antes de mais testar-nos, sentir até onde está o nosso limite, a nossa coragem. É ter o impulso de sair da nossa zona de conforto, largar as pantufas e calçar as botas de caminhar, pois é disso que se trata, trilhar caminhos novos.

Quando saímos devemos procurar saber como vivem as outras pessoas, conhecer in loco os seus costumes, como pensam ou o que comem e bebem. Enfim, vivenciar experiências. Isso é também abrir-nos ao Mundo.

O melhor seria visitar uma cidade desconhecida e partir à aventura pelas suas ruas, sentindo o seu pulsar, sem programa e sem horários.

É o calcorrear caminhos pela costa pedregosa e húmida do Norte de Espanha, parando em localidades ao acaso, maravilhando-se com as paisagens e com as gentes. Ou ir mais longe, muito mais longe, em quilómetros, experiências e vivências.

Conhecer Mundo faz-nos pessoas mais ricas e mais completas, por ficarmos mais cientes do que nos rodeia. E ficamos seguramente a conhecer-nos melhor!

Caberá a cada um de nós saber e querer distribuir os conhecimentos adquiridos e as vivências obtidas pelos outros, numa cadeia sem fim de enriquecimento mútuo.