segunda-feira, 6 de março de 2017

EU SEI - IVO Capítulo I (1 de 8)


Cheguei a casa e ao vê-la atirei-lhe um “Olá Amor, hoje chegaste cedo”, ao que ela me responde com um “Sim, cheguei”, polido, educado e um tanto ou quanto frio. E sem me olhar uma única vez, desapareceu na cozinha.
Estava ainda a tirar as coisas dos bolsos, preparando para a cumprimentar devidamente, quando ouço a sua voz sem a ver “Olha, senta-te que temos de falar”. Mais uma vez aquela voz polida, educada, um tanto ou quanto fria.
Dizem que os homens não são sensitivos. Concordo com essa afirmação. Pelo menos não são como as mulheres. Os homens desenvolvem-se sem se preocuparem com a minucia das expressões faciais, corporais e vocais.
Mas mesmo o mais empedernido dos homens sabe o que pode querer dizer a expressão “Temos de falar” da boca de uma mulher. Ou pelo menos tem a obrigação de saber.
Sabem aquele sentimento que nos impede de “obedecer” ao que os outros nos dizem, quando achamos que algo está mal? Foi o que me aconteceu. Fiquei em pé, de braços cruzados, à espera.
Ela veio para a sala. Um pouco ansiosa. Disse-me gentilmente para me sentar, e quase estalou a fina superfície de um fraco verniz que trazia por cima de si quando me recusei. Vi que tinha toda a conversa pensada e treinada, inclusive onde estaríamos sentados.
Por momentos senti-me um “puto reguila”, mas já que tomei essa posição, mais valia mantê-la. Ceder seria pior, agora.
Como sabes, estamos juntos há cinco anos”, começou ela, num tom que já parecia de retrospectiva, “e deixámos as coisas arrastarem-se tempo demasiado…”.
De súbito, compreendi onde ela queria chegar com esta conversa tão solene! Que estamos juntos há tanto tempo que e nunca mais marcámos a data do casamento.
Era óbvio. Sempre nos quisemos casar, mas por alguma razão nunca mais nos decidimos. E há algum tempo deixámos de tocar no assunto. Sei que na última vez fui eu que toquei no assunto. E lembro-me que ela fugiu ao tema….
Os meus olhos começaram a brilhar e os meus braços começaram a descruzar-se para falar e dizer que marcamos já a data, quando ela, compreendendo que eu não estava a compreender nada, disse num tom apressado:

- Ivo, eu já não te amo!
(continua)


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