quinta-feira, 11 de maio de 2017

Transilvânia (2 de 3)

Desde o meio do dia que uma fera me perseguia através do mato, a rosnar.
Ela sentia o meu sangue a sair dos meus muitos ferimentos. E o sol já estava bem baixinho, projectando sombras cada vez mais longas.
Ela ainda não me tinha atacado porque não sabia se eu era uma presa fácil ou se, pelo contrário, representava uma ameaça.
Assim, perseguindo, cansava-me, piorando os ferimentos.
Ao fugir no meio da noite dei um tombo feio num morro qualquer, e a ferir-me bastante, senti logo que só com muita sorte não seria detectado por algum tipo de predador.
E isso era coisa que eu já tinha gasto há muito, e não me tinha surgido mais nenhuma entretanto.
Ainda não sabia que animal me perseguia, mas pelo rosnado não era com certeza coisa boa.
Mas com tanto bicho mau naquelas montanhas, era só uma questão de tempo até algum me tentar comer.
Anoiteceu por fim e num repente recusei-me a andar mais. O meu sangue ensopava-me a roupa toda. Sentei-me e gritei-lhe: “Se me queres comer come, Cabrão!
A fera rugiu em resposta, e pelo refolhar da vegetação tinha começado a andar à minha volta, num círculo largo, que sabia, ia-se estreitando cada vez mais.
Apesar do meu cansaço extremo, sentia a adrenalina ainda a bombear o meu corpo, tornando-me virtualmente invencível. Mas temia sucumbir…..
Dei por mim a ajeitar-me como se me preparasse para dormir. Ou para morrer.
Os meus olhos teimavam a fechar-se cada vez mais, mas ainda assim via a fera a aproximar-se aos poucos….
Eu estava plantado no chão, braços caídos e pernas estendidas. Era só uma questão de tempo até saltar-me para a jugular. E aí tudo terminaria.
Confesso que nunca imaginei acabar assim, sozinho, ferido, comido pelos bichos. Acho que nunca ninguém imaginou um fim destes para si próprio….
De súbito, senti que se fosse assim, morreria sozinho, e ninguém saberia mais de mim!
Num último acesso de fúria abri os olhos e encarei a fera quando esta se preparava para dar o bote!
Ela penetrou nos meus olhos impregnados de fúria e cheia de dúvidas hesitou, recuando ligeiramente.
Nesse entretanto agarrei um pau comprido e apoiando-me nele, levantei o meu corpo cansado, pondo o meu pescoço fora do alcance dos afiados dentes da fera.
Esta rosnou alto, parecendo um lamento verdadeiramente humano, e de tal forma o fez que me arrepiou o que ainda não estava arrepiado no meu corpo!
Vi então a fera com olhos de humano e não de animal acossado que eu era quando dela me apercebi.
Era apenas um lobo jovem, mas letal, sem dúvida.
Mas eu sentia que estava fraco demais para estar de pé, e a adrenalina ajuda mas não substitui o imenso sangue que entretanto tinha perdido, e começo a perder os sentidos….
Se nem me apercebo de que estou a cair, muito menos me apercebo que a fera foge, assustada com alguma coisa, perigosa até para ela…
E acabo tombado no chão, como mais uma árvore na floresta….
(continua)

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