Eu
continuei deitado de barriga para cima, olhando desafiante para as nuvens
ameaçadoras, que furiosas pela minha audácia, segredavam umas para as outras,
juntando-se cada vez mais. E o ribombar cada vez mais próximo.
Via
pelo canto dos olhos o intenso brilho dos relâmpagos a varrerem a planície,
lançados pelos insanos deuses, cujo riso se confundia com o troar dos trovões. "Malditos",
pensei eu, "Sempre a mesma coisa. Os fortes brincam com a fracos". E
desafiante, continuei deitado, olhando as nuvens.
Animais
passavam por cima de mim, desesperados de medo pela fúria dos elementos, mal
sabendo que eram os deuses os verdadeiros causadores. Aqui e ali focos de
incêndio iam surgindo, tal a proficuidade de raios que iam varrendo tudo ao seu
redor. "Malditos", pensei eu.
De
súbito, um deus menor olhou para mim e mesmo antes de lançar um raio, perguntou-me
quase incrédulo “Mas tu não tens medo de mim?” pelo que respondi, apenas com o
olhar “Não, não tenho medo nenhum de ti”. E continuei deitado de
barriga para cima, olhando desafiante.
Os
deuses foram parando de atirar raios, perguntando uns aos outros e às nuvens quem
era eu, que fazia ali, e porque não tinha medo deles. E mesmo por cima da minha cabeça espreitavam pelo céu abaixo, para mim. E eu olhava para eles, desafiante, sem
medo.
O deus menor colocou uma escada e quando esta tocou no chão desceu, indo ter
comigo. Olhou para mim e depois olhou para cima, para os outros deuses e
nuvens. Acenou para eles e estes responderam. Tudo estava em silêncio,
aguardando.
O
deus menor deitou-se ao meu lado, olhando nos olhos para os outros deuses, e
parecia mesmo que lançava, como eu, um olhar desafiante. Os outros, lá em cima,
estavam atónitos com tamanha audácia. E debandaram de onde estavam.
Julgava
eu que os outros deuses se tinham ido embora, que tinham ido infernizar outros,
mas não, desciam vagarosamente a escada e encaminhavam-se para mim. E eu olhava
desafiante para eles, desta vez junto à ceara. E o mesmo fazia o deus menor.
E
findou-se a tarde, comigo a olhar para um céu sem nuvens, completamente rodeado
de deuses, todos deitados de barriga para cima, e que deliciados, viam um mundo
como nunca imaginaram que fosse.
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