sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Elsa (4)

No tempo dos meus pais, raras eram as pessoas que trocavam de emprego. Na verdade, na maior parte das vezes elas nem os escolhiam, pois estes eram arranjados pelos padrinhos. E se estes não fossem padrinhos pelo santo baptismo, passavam a ser pelo santo emprego.

E tal como não se mudava facilmente de emprego, também não se mudava de clube, de religião e principalmente de cônjuge. Mas como tudo isto acabou no espaço de uma única geração.

Invejo os meus pais pela vida que tiveram, e ainda mais pela sua relação. Longe de ser perfeita (eu sempre desconfiei das coisas que parecem perfeitinhas), foi suficientemente estável para permanecerem juntos.

Assim, e naturalmente, desejei sempre ter o que os meus pais tiveram, e de todos antes deles, e que agora caiu em completo desuso: ter alguém para a vida!

Disse-me uma vez um amigo que “não te preocupes que pois mulheres há sempre”. Ele tinha razão, pois efectivamente, mulheres há e haverá sempre.

A grande diferença entre mim e ele é que eu queria encontrar alguém especial e ele queria encontrar alguém que o achasse especial.

Sinceramente não sei qual dos dois estava a ser mais exigente. O único facto concreto é que ele, desde então, teve muitas. E eu não…

Eu queria encontrar a “A Mulher”, uma especial, com um M de Mulher muito grande. E nada mais! Só isso”. Rio-me ao pensar nisso.

Por vezes dei por mim a formular a pergunta “será esta?” Mas o simples acto de me questionar significava que tinha dúvidas e se tinha dúvidas é porque essa não era a tal. É realmente mesmo muito simples.

De repente, deixei-me disso. Senti que estava a viver num casulo sentimental, e apesar de continuar a ser um bocadito “assediado”, resistia às pressões porque, pensava eu, não estava preparado para ter uma relação tal como ambicionava.

Se eu fosse uma pessoa com temor à solidão, teria aceite uma ou outra situação, pois valeria tudo menos ficar para tio, até ficar com alguém que não amasse, ou que tivesse de mentir acerca dos sentimentos. Será que uma mentira piedosa dessa índole doí menos que as outras?

No fundo, que mal faz estar numa relação sem lá estar, realmente? Não é essa a realidade para tanta gente ao redor deste globo? Será o Amor o único vínculo que  une duas pessoas? Não será tão válida uma relação sem Amor como uma prenhe desse tão nobre sentimento?

Bem sei que posso começar, manter e acabar uma relação sentimental e íntima sem dizer uma única vez “Amo-te”, sem verter uma lágrima, sem ter tido uma discussão. Mas não é decerto esse tipo de relação que quero na minha vida!
(continua)

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