sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Elsa (5)


Tanto tempo sem ter ninguém ao meu lado levou-me naturalmente a questionar se não estaria a ser demasiado restritivo, se não estaria à procura do meu Santo Graal. De procurar sem nunca encontrar.

Garanto-vos que nunca procurei defeitos nas mulheres que me apareceram na vida. Antes pelo contrário, pois tentava encontrar certas qualidades que me fariam, caso a relação desse certo, ter um gosto especial. Como a dose certa de sal numa comida requintada.

Sabia no meu íntimo que se encontrasse a dose exacta das qualidades certas me renderia total e absolutamente a essa mulher. E de certeza, para sempre. Só que infelizmente nunca encontrei essa "tal" mistura.

E eu, que sempre desconfiei das coisas perfeitinhas, dei por mim a procurar a mulher com a dose perfeita de qualidades.....

Confesso que fiquei bastante chocado comigo próprio com essa descoberta, mas uma colega e amiga depressa me tentou acalmar. “Descansa que ela vai aparecer!” Claro que não acreditei, mas também não demonstrei o meu cepticismo.

Encontrar “alguém para a vida” não é o mesmo que ir às compras e deparar com uma boa promoção. Julgamos que é uma pechincha e ficamos muito contentes. Mas depois ficamos frustrados quando descobrimos ou que o produto não presta ou que na loja ao lado este estava mais barato.

Considero que encontrar essa tal pessoa poderá ser bem mais difícil de encontrar um trevo de quatro folhas azul bebé. Ou um político incorrupto e verdadeiramente sincero.

Foi aí que cheguei à conclusão que a "tal", pura e simplesmente, não existe! E nunca existiu, para ninguém.

O gostar de alguém será apenas a conjugação de atracções, de oportunidades, de coincidências, de gostar do que se vê, do que se ouve, do que se sente, sem saber e sem querer saber de onde vem esse gostar. Apenas gostar....

E principalmente, manter o gostar, que é, sem dúvida, a parte mais difícil. Manter a chama acesa, e se possível, aumentá-la. E ir mudando a bilha de gás, não vá ele acabar!

E aqui estou eu, depois de ter estado sentado numa carruagem de metro pouco cheia, a olhar para o telemóvel, para as notícias do Sapo, do Observador, do El Pais, da Globo, a ler que o líder norte-coreano tinha acordado com os “pés de fora”, e por isso, furioso.

E a minha vida tanto mudou depois de nessa carruagem de metro ter levantado a cabeça e de ter reparado numa mulher pequena e discreta.

E de essa mulher se chamar Elsa!
(continua)

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