sexta-feira, 16 de março de 2018

A Amante (1 de 3)

Tenho um casamento estável há décadas, e com filhos já adultos. Adoro a minha mulher, Glória, e sei que ela me adora. E só por aqui vocês vêm que já tenho muitos, mesmo muitos motivos para estar satisfeito com a minha vida.
O meu melhor amigo sempre foi o Nuno. Crescemos juntos, estudámos juntos, namorámos juntos com duas amigas de juventude, com as quais viemos a casar e a ter filhos. Moramos ao lado um do outro, e tornámo-nos mais irmãos de facto do que a maioria dos irmãos ditos de sangue.
Todos os anos nós e as nossas famílias passamos as férias juntos, e raros são os fins-de-semana em que não estamos na casa uns dos outros. A vida corre-nos bem a ambos, e desconfio que qualquer dia ficamos unidos por sangue, tão bem os nossos filhos se dão.
Há alguns anos, fomos ambos seduzidos pela mesma empresa e pelo seu projecto aliciante. E pesou muito o facto de assim passarmos a trabalhar juntos. Desta forma estreitamos ainda mais os nossos já profundos e fortes laços.
Um dos defeitos da mente humana é que raramente fica muito tempo satisfeita com o que tem, mesmo que seja muito e bom, e assim, procura mais, melhor, ou apenas diferente.
Um dia, o Nuno não almoçou comigo e nem me disse nada, mas como não almoçávamos todos os dias juntos, não relevei.
Nessa tarde, o Nuno enviou-me uma mensagem lacónica a avisar que tinha de sair mais cedo. Fiquei preocupado quando cheguei a casa e não vi o automóvel dele estacionado, pois pensei que ele poderia estava a passar por alguma situação complicada, e esperei que ele me dissesse algo sobre o assunto.
Passou mais de uma semana sem lhe ver a cor dos olhos, parecendo sempre muito atarefado. Ainda pensei que ele estivesse integrado nalgum projecto novo, mas achei estranho, pois eu teria sabido antecipadamente.
Mas não demorou até saber o que se passava com ele. Ia eu almoçar com um cliente e amigo num restaurante da moda, quando deparei com o Nuno, com a mão sobre a mão de uma jovem, que reconheci como nossa colega, numa mesa isolada. E ele parecia bem e feliz, de acordo com o brilho dos seus olhos.
Senti a lâmina de uma faca fria a subir pela minha espinha acima, e de tal modo fiquei tenso que o meu cliente e amigo colocou a mão por cima do meu ombro e disse “Estou a ver que não sabias de nada, mas ele tem vindo aqui, bem acompanhado como vês, com alguma frequência.
Estava explicado o comportamento dele. O Nuno tinha uma amante! E tenho de confessar que os meus pensamentos não foram para a mulher dele, minha amiga, nem para os filhos deles.

Só pensava que “se ele não me contou, é porque não confia em mim”. E senti-me verdadeiramente traído!

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